Chanson pour dimanche

Publicado: março 8, 2011 em Uncategorized

Vem, contempla esse branco infinito
e vem, ora, questionar-se sobre a eternidade
Se houver uma fresta nessa janela
Verás que ainda é domingo
E o céu de domingo se difere dos outros dias da semana.

Porque o céu de domingo se estende
em tantas cores que desconheço,
verás que é angustia e tormento
enquanto a perplexidade de nossa íris
se retém inconformado

Não há vida nem morte por hora
Deus tira folga no domingo
Essa crua paisagem, despe-se sem obscenidade
até vir um pintor ou um poeta
e salva-lo do anonimato

Vem, contempla essa ardência enfática
onde o céu é um fogo brando
que se desdobra em mil cores
e desperta-se de um sonho tolo

Vem, ora, que domingo tem um fim
quando não se vê mais nenhuma mancha no céu
e a tristeza por hora invadir o peito
Não serás mais domingo,
Não serás mais enfim.

Diferença

Publicado: março 7, 2011 em Uncategorized

“Você que tanto queria se destacar dentre as milhões de faces vazias, quanto mais tenta, mais igual a elas fica. Você que quis tanto ser diferente, ouvir músicas desconhecidas, e vestir-se como mais queria, não consigo entender por que cada dia que passa, vejo-te como uma sombra amarga e fria. Pior ainda: semelhante a um todo. A um pobre e generalizado todo, do qual nunca se identifica.”

Je m’appelle Samira

Publicado: março 7, 2011 em Uncategorized

Eu sou Samira, poderia ser outra pessoa mas não sou.
Ando meio solitária, mas isso foi tão comum na minha vida.
Sou dramática ao extremo, e aprendi a gostar do jeito que meu nome soa.
E confesso que gosto quando as pessoas dizem que tenho cara de árabe.
Eu toco piano, e as vezes acho que as notas bemóis se parecem comigo.
Eu gosto de ler, gosto de reclamar, gosto de acordar cedo.
Sonho demais, penso demais, me preocupo demais.
Eu tenho um mundo platônico e penso que isso é ridiculo.
Gostaria de subir em um palco e tocar piano sem errar uma nota, e fazer com que os aplausos demorem a cessar.
Sonho em alcançar Paris, não mais do meu quarto, não mais da minha mente.
Gostaria de sentir o gosto da neve.
Tenho medo de liquidificador, tomadas e estátuas de Buda.
E o que mais me deixa feliz é sentar na beira da praia e ouvir o som que as ondas fazem.
Meu pior defeito é agressividade e impulsividade.
Tenho vontade de beijar um capricorniano.
Tenho medo e encantamento por trovões, algo que não sei explicar se é bom ou ruim.
Compus uma música no piano, minha irmã gosta, mas tenho vergonha da minha música. Não sei por que.
Uma qualidade que tenho é criatividade. E as vezes sinto ela ausente.
Dizem que sou talentosa, porque toco piano, escrevo, desenho, fotografo…Mas talento não é inteligência, logo continuo me achando burra.
Gosto mais de ficar e deixar tudo sumir ao vento. Amor não é pra mim.
Não gosto de Carnaval e da cultura brasileira.
Não gosto da minha cidade, e me sinto perdida.
Eu gosto de cantar, apesar de não cantar bem.
Uma das maiores dores da minha vida foi ter perdido um pai.
Eu não me arrependo muito do que faço, prefiro não pensa-las, mas fico a me corroer por dentro quando deixo uma oportunidade passar.
Gosto de homens com barba. Gosto de perfume doce.
Eu não entendo matemática. Não mesmo.
A parte do corpo que mais gosto em mim, são as pernas e os meus dentes.
Finjo ter auto-estima elevada.
Não encararia uma cirurgia pra mudar algo no meu corpo.
As pessoas dizem que sou antipática.
Odeio cerveja. Odeio sertanejo universitário.
Odeio tanta coisa.
Na mesma medida que amo.
Não sei cozinhar, não sei vomitar, não sei dar conselhos
Gosto de chuva, e gosto de caminhar no frio.
Bati na professora quando eu estava no primário.
Tenho sonhos incrivelmente bizarros.
E uma lista de sonhos que não acabam nunca.

Eu sou Samira, e nunca deixo de pensar que poderia ser outra pessoa, poderia ter outro nome, poderia ser mais magra e bonita, poderia ser mais inteligente.

mas de alguma forma, felizmente não sou.

Every ship must sail away

Publicado: março 2, 2011 em Uncategorized

“Os anos passam e as pessoas mudam
Um céu azul poderia virar cinza
Isso vai machucar agora
Cada navio deve navegar para longe
Cada navio deve navegar para longe”
(Blue Merle)

I’m a lady

Publicado: fevereiro 28, 2011 em Uncategorized

“E eu gosto as vezes de acenar bem alto
Alto o suficiente para todo mundo ver
Que eu sou uma dama
Eu tenho a mente decidida
Eu tenho a mente decidida”
(Santogold)

Felicidade contida

Publicado: fevereiro 27, 2011 em Uncategorized

Diludo minhas palavras ao vento
Conforme caminho entre pedregais
Os ponteiros continuam a girar
E enlouquecer minha mente.
E a cada passo dado,
é como colher aos poucos
os pedaços de felicidade na relva.

De todas as vozes ditas,
vou guardando aos poucos cada timbre
É uma despedida mal-feita
Palavras pela metade,
verdades reprendidas
angústia em forma de solfejo.

Olhei para o céu em chamas
E vi que certas coisas, nada adiantam dizer
É uma maldição persuasiva
De optar apenas por um
De deixar entupir as palavras na garganta
ou soltá-las como fogos de artificio

E a cada adeus implicitamente dito,
vejo nos olhos alheios a falta de importância
Quando encontro o espelho,
vejo no fundo, uma esperança.
Até completar a tese de que
estar sozinho não é uma má idéia.

Estar sozinho é talvez fortaleza
É se preparar para um grande estorvo
Gostar especialmente de sua própria companhia
Então todos suspiram em coro
desafinadamente sentem pena pelo outro
Não sabe a paz que guardas em seu coração.

De qualquer maneira,
Caminhei por aquela rua
e me dei conta da felicidade
que quis explodir no peito
mas se contentou apenas com um semblante sereno.

Deus é triste

Publicado: fevereiro 21, 2011 em Uncategorized



Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.

 

(Carlos Drummond de Andrade)

 

Encontro rápido

Publicado: fevereiro 14, 2011 em Uncategorized

As vezes ouço seu nome, tão comum, a soar da esquina. Vejo teus olhos em ruas por onde não passei. E naquele suspiro noturno, quando todos repousam, eu tento me lembrar de como era sua voz. Mas lentamente o sono me pega, de vez em quando aparece em meus sonhos, como uma mancha nublada que desperta lentamente.Não me apego, não desejo-te, não penso sempre. É apenas uma curiosidade. De olhar através da cortina e assistir-te a suspirar.Não me engano, não me desespero, não me entristeço. Apenas me deixo o espaço lento de lembrar. Desejo sim, uma noite com estrelas, conversas tolas sobre o nada, um pouquinho de aproximação. Não provar-te, para poder pensar que gosto tens. Deixar para a madrugada com um sorriso no canto, de pensar no que poderia ser, mas não foi. Mas desejo sim, tua doce companhia. E deixar o momento sumir para sempre. Não te conhecer muito bem, seria meu prazer. Não deixar esse gosto do eterno nos perturbar outra vez.
Quem sabe um dia. Um café talvez?

Itapema

Publicado: fevereiro 12, 2011 em Uncategorized

Ó, mar de Itapema,
quando se mistura com o céu,
deixa todos contemplados a suspirar
De tanta grandeza,
somos apenas um de teus grãos de areia
Que vem da beira sobrevoar
Por entre as ondas que de longe brilham
Somos em ti apenas poesia
prestes a desmanchar
E dissipar-se através da brisa.

 

Einsamkeit

Publicado: fevereiro 9, 2011 em Uncategorized

 

Sozinha no escuro, onde poucas luzes queriam invadir o espaço, nenhum som, exceto o meu, me dei conta de que a solidão era uma pessoa desconfortável e tênue. Naquela penumbra dei de cara com um espelho me encarando, gostei do que vi, mas esse narcisismo é fajuto e indúravel. Sem rugas e marcas de velhice, por hora, o alívio e a necessidade de saber que a noite continua intacta lá fora. Por que, meu Deus, por que odiar a solidão? Logo ela, sorrateira, senta do nosso lado com uma pergunta sussurrada: “Quer companhia?”. Joga-se a culpa em suas costas, ainda quentes, pelo desconforto da nossa alma quando a dor invade e não há ninguém que nos ofereça uma dose. Ela sempre fica ali no canto, parada e esperando o momento certo de sentar e esperar o que tens a dizer. Pelo silêncio, ela compreende. A dor que sentimos não é a solidão invadindo.Mas não havia dor, ela estava lá, tímida e invisivel. Certamente perguntando-se onde estavam meus amigos ou meus amores. Ou por que eu não estava dançando em alguma pista, ou se jogando nos braços de alguém. Compreendi que não era uma ironia, era apenas uma pergunta. Estúpida, mas era uma pergunta. Respondi que era assim como eu deveria estar. A solidão não é boba, eu estava mentindo. Ninguém fica sozinho porque quer. Será? O espelho mostrava meu rosto inexpressivo. Sem dor, sem esperança, esperava pela resposta e pela noite cair. O rímel estava borrado, meu cabelo bagunçado. Vi e gostei. E a solidão estava impregnada naquela face do espelho, querendo esboçar um sorriso acolhedor. E eu pela primeira vez, correspondi.